Iniciar uma terapia psicológica é uma atitude que para muitas pessoas representa um desafio. A identificação de um problema (geralmente associado a algum tipo de sofrimento com algum prejuízo) e o reconhecimento de que precisamos de ajuda profissional são dolorosos, e são os principais fatores que levam as pessoas a procurarem um psicólogo. Inúmeros pensamentos podem passar pela cabeça no momento de buscar ou se manter em uma terapia, gerando assim, expectativas sobre o processo psicoterápico.
A psicoterapia ainda é desconhecida de uma grande parcela da população. Apesar de ser uma atividade cada vez mais divulgada, ainda há muitos mitos sobre esse serviço. Uma vez que a forma como a pessoa entende a psicoterapia e as expectativas que ela tem podem influenciar a qualidade e o sucesso do tratamento, visamos esclarecer alguns pontos importantes sobre esse processo.
O Profissional
O Psicólogo é um profissional que deve ser escolhido com base em alguns critérios, como formação, competência, postura ética e afinidade. É importante lembrar que este profissional se difere de um amigo, um familiar, um líder religioso ou um chefe.
O psicólogo é um profissional estudioso que busca ajudar o paciente em seus problemas através dos seguintes elementos:
Entrevista Psicológica, onde usa uma escuta qualificada e que se difere de uma simples conversa.
Empatia, compreensão aberta, acolhedora e sem julgamentos do pontos de vista, sentimentos e comportamentos do sujeito.
Instrumentos e técnicas psicológicas sérias, estudadas e validadas.
Este profissional também é uma pessoa com um estilo próprio e uma personalidade que, apesar de sua flexibilidade, tem seus limites e exigências. Portanto, o encontro entre terapeuta e paciente é uma relação que, semelhantemente as outras relações, tem seus direitos, deveres, limites e características específicas. Este laço será construído a partir da decisão de ambos em investir e se comprometer com esta relação terapêutica, que deve ser clara, confiável, humana e estritamente profissional. Cabe ao profissional garantir os princípios éticos do sigilo das informações, da clareza do processo e etc.
O Compromisso
Nada do que acontece na terapia está relacionado à mágica. O tratamento exige colaboração entre terapeuta e paciente, além de muito trabalho e dedicação de ambos. Sendo assim, o terapeuta encoraja o paciente a um trabalho em equipe, levando em consideração que as mudanças não acontecem sozinhas ou apenas por esforço do terapeuta, mas que a “participação ativa” do paciente é parte fundamental para a aprendizagem e as mudanças (BECK, 2013).
O Tratamento
Ao planejar uma viagem é fundamental decidir o destino de onde se quer chegar. Para tanto é traçada uma rota em um mapa e planejado como chegar até o destino. Uma viagem sem destino pode ser confusa e um enorme prejuízo de tempo e dinheiro. Ou mesmo, uma alta expectativa sobre um destino impossível ou pouco provável pode ser igualmente frustrante e prejudicial.
Um dos primeiros passos na terapia é o acordo entre terapeuta e paciente sobre o destino e como chegar nele. Ambos entrarão em um consenso sobre o é possível fazer a partir da terapia, tendo em vista os recursos internos do paciente, seus limites e potências, e seu contexto em geral. Por exemplo, como transformar um gato num leão, tendo em vista as diferenças biológicas, físicas, cognitivas e ambientais de ambos? Será que para um gato sentir-se melhor precisa ser um leão, ou descobrir seus limites, pontos fortes e como usa-los a seu favor pode fazer com que o gato sinta-se bem? Para tanto, é preciso nivelar os objetivos à realidade.
Os objetivos são marcadores muito importantes em todo o processo e, para serem eficazes, precisão ser realistas e funcionais. Às vezes os resultados da terapia não acontecem dentro do tempo e objetivos esperados pelo paciente, podendo levar a desmotivação ou abandono do tratamento (CERIONI, HERZBERG, 2016). Portanto, estabelecer e reavaliar os objetivos durante o processo de forma realista e em parceria com o terapeuta é crucial para o tratamento. São estes objetivos que irão determinar o destino da terapia.
O Investimento
No que se refere ao valor do tratamento, o Investimento financeiro na terapia tem um significado para além do dinheiro. A disponibilidade e a motivação para investir financeiramente no valor das consultas dependerão de diversos fatores como, por exemplo, a importância que o sujeito dá sua própria saúde e se o retorno que o investimento do valor da terapia traz como “lucro” e/ou benefícios vale a pena ou não.
Já o tempo de uma terapia é relativo e dependente de todos os fatores já mencionados. Portanto, alguns pacientes levarão poucos meses para alcançar determinados objetivos, já outros pacientes muitos meses ou mesmo anos a depender da gravidade dos problemas apresentados, o grau de dificuldade dos objetivos, a presença de problemas de difícil tratamento, o comprometimento pessoal da terapia e a relação entre paciente e terapeuta. As sessões geralmente são semanais, podendo variar de acordo com o contrato firmado entre paciente e terapeuta.
Conclusão
As expectativas sobre a terapia influenciarão o processo e os resultados do tratamento. Conhecer de forma adequada a terapia e equilibrar as expectativas desta com a realidade podem gerar sentimentos mais positivos e um maior comprometimento com o tratamento, uma vez que uma interpretação mais realista do que se pode esperar contribui para uma avaliação mais honesta dos custos e benefícios do processo. Muitos fatores irão intervir nas ideias a respeito do tratamento, porém é fundamental a busca por informações seguras e confiáveis, indicações de bons terapeutas e abertura para se aventurar nesta viagem transformadora com destino à qualidade de vida!
Referências:
BECK, Judith S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2013.
CERIONI, Rita Aparecida Nicioli; HERZBERG, Eliana. Expectativas de Pacientes acerca do Atendimento Psicológico em um Serviço-Escola: da Escuta à Adesão. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 36, n. 3, p. 597-609, Sept. 2016 . Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932016000300597&lng=en&nrm=iso. Acesso em 20 jul. 2018.
Sobre o Autor:
Jonathan Julio Macedo de Paula
Psicólogo, Pos-Graduando (lato sensu) em Psicologia Médica pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM/UERJ). Graduado em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá (UNESA). Terapeuta colaborador da Ação Cognitiva.
E-mail para correspondência: jonnathanjulio@hotmail.com
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