Situações perigosas naturalmente nos provocam medo. Está é uma emoção básica e muito impotante para que tenhamos estratégias de proteção e sobrevivência. Diante dessa pandemia, já imaginou como reagiriamos se não experimentassemos certo grau de medo? De acordo com pesquisa recente do Datafolha (2020), numa população de 1.558 pessoas a partir de 16 anos que possuem celulares de todas as regiões do Brasil, três em cada quatro entrevistados (74%) têm algum medo de ser infectado pelo coronavírus (entre os mais velhos o índice é de 66%). Desses, 36% têm muito medo e 38% um pouco de medo. Um quarto (26%) não tem medo de ficar doente. Ainda de acordo com esta pesquisa, a maioria (83%) avalia que corre algum risco de se infectar com o coronavírus, sendo que 20% avaliam como grande a chance de se contaminar, 33% como média e 30% como pequena a chance. Uma parcela de 12% avalia não ter chance de se infectar e 5% não opinaram. Outro dado relevante da pesquisa é que 72% declararam que estão bem informados sobre o assunto (o índice aumenta conforme cresce o grau de instrução, a renda familiar mensal e a faixa etária do entrevistado), 24% mais ou menos informados e 3% estão mal informados. Uma parcela de 1% não tem conhecimento sobre o tema. Considerando esses dados podemos concluir que a porcentagem de pessoas que se declararam bem informadas é proporcional ou correspondente à porcentagem de pessoas que declaram ter medo. Isso reforça a ideia de que o medo é uma reação natural à percepção de perigo. Devemos também considerar que uma parcela significativa de pessoas no mundo todo possui trantornos mentais, comuns ou graves, com sintomas ansiosos intensos (por exemplo, Transtorno do Pânico, Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno Obsessivo Compulsivo, etc). Estas condições podem ser fatores de vulnerabilidade para uma experiência mais intensa de medo diante desta calamidade que vivemos. Sendo assim, é fundamental que estas pessoas estejam em acompanhamento psicológico e psiquiátrico durante o período de crise. Os psicólogos devem ter atenção para normalizarem o medo natural que qualquer pessoa sinta diante desta pandemia. Entretanto, devem avaliar cuidadosamente a presença de transtornos mentais capazes de provocar um exagero nas reações de medo e demais reações diante deste período difícil. Mais do que nunca, devemos estar atentos a uma boa conceitualização de caso para decidir qual seria o plano de tratamento mais adequado para cada paciente.
Além disso, é importante frisar que nós, profissionais de saúde mental, também estamos no mesmo barco que os pacientes: todos nós vivemos o contexto da pandemia, de forma que também nos informamos e reagimos cognitivamente e emocionalmente a tudo que está acontecendo. Seria natural que entrássemos em sofrimento e experimentássemos alguns sintomas que costumamos tratar nos nossos pacientes. Por isso, faz-se necessária uma atenção redobrada ao nosso autocuidado.
Separar tempo para si e para os seus entes queridos, tentar fazer algum exercício físico (mesmo com a limitação de espaço), cercar-se de uma rede de apoio tanto pessoal quanto profissional, estudar para se capacitar e se sentir eficaz no tratamento dos pacientes e recorrer à psicoterapia pessoal são algumas das ações de autocuidado que podem lhe ajudar nesse momento. Vale também ressaltar a importância de recorrer à supervisão, sobretudo nos casos que tendem a te sobrecarregar. Essa divisão de responsabilidade e a sensação de acolhimento proporcionada por uma boa supervisão podem ser fundamentais para que você lide com tudo isso de uma forma bacana para você e para o seu paciente.
Por fim, não sabemos ao certo o que irá acontecer. O medo vai nos acompanhar nesse período e tudo bem não nos sentirmos fortes o tempo todo. Cabe a nós prestarmos atenção tanto nos nossos pacientes quanto em nós mesmos para que possamos fazer o nosso trabalho com qualidade e respeitando o nosso limite. Lembre-se também que essa fase é limitada no tempo: ela vai passar. Vamos fazer a nossa parte para lidar com esse período da melhor forma possível!
Sobre o Autor
Jonathan Julio Macedo de Paula
Psicólogo, Pos-Graduando (lato sensu) em Psicologia Médica pela Faculdade de Ciências Médicas (FCM/UERJ) e cursando a Formação em Terapia Cognitivo-Comportamental (Ação Cognitiva). Graduado em Psicologia pela Universidade Estácio de Sá (UNESA). Terapeuta colaborador da Ação Cognitiva.
E-mail para correspondência: jonnathanjulio@hotmail.com
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